sábado, 28 de fevereiro de 2009
na tabacaria, antes do carnaval chegar...
água com gás, um café, são salvador (robusto), furador r 'maçarico', por favor. sentado na cadeira, busco a sony cybershot 2.0 celular... recebo o pedido. adoço o café. bebo um pouco d'água. um gole de café. aqueço o tabaco. acendo o charuto e sinto a fumaça espalhando-se pelo ar... foco o café, "natureza morta" em tabacaria africana. as vezes envio a foto para alguém. bebo o café tranqüilamente lendo - nesta tarde de sexta-feira foi 'desgustado' da sedução, nas palavras de jean baudrillard. tomei conhecimento do baudrilard por um texto seu - a fotografia como mídia do desaparecimento. pessoa entram na tabacaria. para comprar tabaco(?). outras compram cigarros. outras mais, tomam café, água, cerveja artesanal engarrafada feita no sul do pais. alguns advogam outras fazem petições... ainda tenho um pouco do café na xícara de café. último gole. e vejo o mundo passar em minha frente da tela da tv. uma moça entra. vai ao balcão. pergunta por algo e recebe uma ligação pelo celular... belas pernas. belos tornozelos. sorvo calmamente uma 'baforada' são salvador... e joannes fala de cordélia... não me recordo neste momento em que página... bebo água. gosto do efeito das borbulhas em minha boca. sensação agradável da saliva com o gasoso da água. fecho o livro. fotografo o livro. fotografo as pernas. lembro-me de "o homem que amava as mulheres" de François Truffaut... sorrio discretamente comigo mesmo. um belo filme. sexta-feira, véspera de carnaval. peço a conta. mais alguns são salvador para viagem. despeço-me do dono da tabacaria colocando os charutos no bolso da calça. o empregado abre a porta. passo e estou no paço imperial... vou de barca para casa. evoé
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
impermanente.. olhar

ela apareceu assim, do nada, e do nada ficou a me olhar. seus olhos assim, mirando um nada me olhavam para além de mim. olhavam mais do que me viam. e eu, assim, sem nada, sentia-me olhado por um nada a ser visado. sem aviso prévio e sem previsão do porvir, fico eu no vazio de não saber o que olhar. e lá, onde nada havia, continua contínua olhada a mirar-me. contíguo vazio de instantes sublevados nos atos de mirar. ser mirado sem ter a mira do alvo certo. parece que desaparece quando pressinto o olhar. presente sem futuro. um obscuro objeto. que desejo tão distante e por conseguinte tão sublime sentir olhado. desejado o olhar se vê visto e transpassado pelo ato suspenso. intervalo. intermédio. um e outro não estão. percebe-se a presença na ausência mirada ao acaso. e se olham e não se vêem. mas se percebem onde não se querem. mas se sabem querer. parece, pelo desaparecimento, que de fato não há ato. e, por debaixo do pano, por sob a pele, o calor humano esfria a razão. insano o coração quer bater. mas, abatido, sente-se querido, por não saber de si o sentido exato disto. existe, na impermanência a sublimação do gozo. gozado, olhado e revisto. entregue por querer... mas, ela, desaparecida do nada... em qualquer parte poderá reaparecer. uma fotografia desbotada registrada na memória... panos abertos ao vento da maré alta. navegação indefinida em mar morto - motor da saudade.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
O PRIMEIRO CONTO VAMPIRO

O PRIMEIRO CONTO VAMPIRO
O sono o deixou. A cama estava fria. A manhã anunciava um novo dia. A noite se despedia lentamente. As horas passavam com a lentidão do infinito. Nada acontecia em seus sonhos... Ele se levanta, vai ao banheiro e olha-se no espelho. O seu reflexo é uma biografia escrita na pele do seu rosto. Marcas do tempo gravadas pela corrosão da vida e experiências vividas. Seu olhar sonolento constata tudo o que vê. Adormecido ainda, ele passa água em seu rosto e caminha para a sala. Não há nenhuma luz acesa e a pouca luminosidade que vem de fora, por entre as frestas da veneziana da janela deixa o ambiente banhado por uma leve penumbra. O que se vê são coisas espalhadas por sobre os móveis. Percebe-se que tudo está desarrumado organizadamente. Todas as coisas estão em seus devidos lugares mesmo que isso não represente uma arrumação convencional pela visão de decoração de casa. É, não há poeira ou qualquer marca de desleixo. Somente as coisas não estão arrumadas em ordem alfabética ou qualquer outra orientação. Tudo parece estar e ser a extensão do usuário como se o interior da pessoa fosse elo direto com as coisas externas. Se o pensamento buscar um livro, este estará sobre a mesa de canto e sob um cinzeiro. Assim, todas as coisas estão em seus devidos lugares. Mesmo que espalhados por aqui e acolá.
Ele se senta. Tem em sua mão um café quente que acabara de fazer. Bebe calmamente enquanto olha o infinito. Seu olhar traspassa as paredes da casa e o pensamento divaga como que sonhando. Um estado de contemplação forçado pela falta de sono e incerteza no porvir. Uma noite difícil anunciando um dia incerto. O café chega ao fim. Ele recosta a cabeça no encosto da cadeira e fecha os olhos. Ele sente seu corpo flutuar... Flutua como se voasse, mas não é um vôo tranqüilo. Algo o incomoda e desperta uma ligeira dormência. A noite ainda é presente e o escuro que precede a manhã deixa tudo em estado letárgico. Derrepente ele vê uma janela entreaberta. As cortinas balançam suaves ao sabor de um breve sopro do vento. Podese perceber o interior. É um quarto de dormir. Pouca coisa se vê. Um armário, uma cômoda. Alguns quadros pendurados nas paredes. Sobre a cama uma pequenina estante onde se vê alguns vidros pequenos de remédio. Ele se sente convidado a entrar.
Já dentro do quarto ele fica de pé ao lado da cama. Uma transformação acontece. Seu corpo que antes voava, torna-se novamente humano. É como se ele tivesse asas e voado, ele pensa. E chega mesmo a acreditar que uma de suas asas estivesse ferida. Isso explica a dor que sentiu em um dos lados do corpo enquanto flutuava. Realmente há uma pequena ponta de dor incomodando o seu ombro. Mas agora eles já têm os olhos acostumados à luz ambiente do quarto. Ele pode ver um corpo deitado sob um leve lençol branco sobre a cama. É o corpo de uma mulher jovem. Ela tem cabelos negros, liso e cortado à altura da nuca. A sua pele é branca. Os seus ombros estão à mostra. Ela veste uma camiseta “regata”. Sua pele reluz ao frágil toque de um raio de luar. A dor do braço já não é tão intensa. Ele suspira e continua observando. Em um movimento suave e rotativo ela muda de posição deixando-se ver mais um pouco do seu corpo. Ela está sem camisola. Somente uma calcinha branca lhe cobre o sexo. É um belo corpo com curvas bem delineadas. Neste momento ele experimenta uma sensação estranha em seu corpo. Sua boca é umedecida pela saliva intensa e viscosa. Um calor percorre todo o seu corpo. Seus olhos estão mais aguçados e vê tudo com mais nitidez. Consegue até penetrar magicamente no corpo desta jovem mulher que esta a sua frente como quem lê seus pensamentos. Sim, ele consegue sentir seus pensamentos. É como se estivesse sendo convidado. Uma sedução envolvente envolvendo-o agora sem que ele saiba o porque. Novamente ela se move. Agora a sua nuca alva está bastante visível entre o lençol e os seus negros cabelos.
Um vento frio entra no quarto balançando as cortinas e tocando a sua face. Mas ele não sente frio e sim uma vontade vinda do interior do seu corpo. Esta vontade é imperativa e o faz sentarse ao lado dela. Sentado ele está admirando as curvas e suavidade deste corpo tão sedutor. A sua mão desliza pelo lençol até tocar a pele dela. Este contato o faz salivar ainda mais intensamente. Então ele acaricia os ombros sentindo todo o frescor desta carne macia. A palma da sua mão acompanha as curvas do corpo como um escultor modela sua obra em barro. Ele puxa o lençol para poder ver melhor todo o corpo. Agora sim, ela está totalmente visível ao seu olhar. Pés, pernas, coxas, braços, enfim, ela totalmente ao prazer do seu olhar. Um arrepio percorre a sua espinha e estilhaça seu cérebro. As suas duas mãos estão nos ombros dela. E descendo percorrem as costas como quem a massageia. Ela está imóvel como que por encantamento. Somente moveu o rosto para o lado. Sua expressão é doce e branda. Parece mesmo consentir com o que se passa. Como o toque e carícias. Ele a olha e deixa as suas mãos deslizarem ainda mais até chegarem à barriga e sente seus dedos tocarem o umbigo. Elas sobem mais e tocam os seios. Ela suspira.
postado por: O Anjo
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
A licorina gruta cabeluda,
e quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gemidos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
Drummond
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
A licorina gruta cabeluda,
e quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gemidos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
Drummond
segunda-feira, 28 de julho de 2008
A boca é para o beijo.

Um medo grande e indecifrável. São as horas. Todas as horas tem um efeito. Mãos gélidas. Um momento, por favor, preciso matar a fome. Há bocas. Várias delas num só corpo, com uma só alma. Com medo. Todas as bocas se manifestam. É o pensamento inútil para o momento. A boca é para o beijo. A boca é para matar a fome. A fome está para matar a boca. Dois corpos tem mais bocas que um. Dois corpos, tendo mais bocas, sentem mais fome. Os corpos alimentam a fome da boca. Essa é a hora. Te esperaria na varanda, se você viesse. Mas você tem medo do meu medo. Todo mundo tem medo do que não conhece. Eu só conheço as minhas bocas. Todas elas tem fome. Lábios são para o desejo. A língua aproveita o ensejo. E o medo cresce. Florescem as campanas do corpo com todas as bocas em flor. Há tanto tempo não te vejo. O arrepio que percorre não socorre. Um desejo insuportável me consome. Eu sei que você tem fome. Eu mataria a sua fome pela boca que te come.
saliva a boca que molhada pela boca úmida que tem fome...
o anjo
sábado, 5 de julho de 2008
o anjo

Sonolenta ela está ao acordar... muito e grandes desejos povoam nirvanas ancestrais.
Ah, tenho medo de morrer... Muito medo!
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