quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

impermanente.. olhar


ela apareceu assim, do nada, e do nada ficou a me olhar. seus olhos assim, mirando um nada me olhavam para além de mim. olhavam mais do que me viam. e eu, assim, sem nada, sentia-me olhado por um nada a ser visado. sem aviso prévio e sem previsão do porvir, fico eu no vazio de não saber o que olhar. e lá, onde nada havia, continua contínua olhada a mirar-me. contíguo vazio de instantes sublevados nos atos de mirar. ser mirado sem ter a mira do alvo certo. parece que desaparece quando pressinto o olhar. presente sem futuro. um obscuro objeto. que desejo tão distante e por conseguinte tão sublime sentir olhado. desejado o olhar se vê visto e transpassado pelo ato suspenso. intervalo. intermédio. um e outro não estão. percebe-se a presença na ausência mirada ao acaso. e se olham e não se vêem. mas se percebem onde não se querem. mas se sabem querer. parece, pelo desaparecimento, que de fato não há ato. e, por debaixo do pano, por sob a pele, o calor humano esfria a razão. insano o coração quer bater. mas, abatido, sente-se querido, por não saber de si o sentido exato disto. existe, na impermanência a sublimação do gozo. gozado, olhado e revisto. entregue por querer... mas, ela, desaparecida do nada... em qualquer parte poderá reaparecer. uma fotografia desbotada registrada na memória... panos abertos ao vento da maré alta. navegação indefinida em mar morto - motor da saudade.